O poeta era muito bom com as palavras escritas e também quando as declamavam para o público. Mas falando, conversando com alguém, em particular, sem texto e sem roteiro, ele meio que travava… queria se expressar, mas ficava sem palavras…
O sarau tinha terminado no Bar Cultural, só que a vontade do poeta de ficar olhando para a advogada que estava sentada à mesa apreciando um tira-gosto, não tinha terminado. Tudo que ele pensava naquele momento era: “Tenho que chegar nela, mas como?”. Na cabeça do poeta se passava altas hipóteses e estratégias sobre o que dizer e o que fazer para conquistar aquela mulher linda de fascinar. Inclusive, ele chegou a imaginar em falar que queria ser o tira-gosto dela…
Que desgosto! Até às piores cantadas o pensamento do poeta se rendeu. Realmente, a primeira conversa era difícil para ele, tipo um desafio bem desafiador. O primeiro “olá”, o primeiro “tudo bem?”, o primeiro passo…
Para a advogada, a “primeira conversa” era como a primeira audiência de um processo que se iniciou. Ela já estava preparada para tudo: com o que podia e com o que não podia acontecer. E na ponta da língua, ela já tinha todos os argumentos para atacar ou se defender.
Ainda bem que o poeta não sabia que a mulher que tirou sua atenção (e também tirou seu coração do estado normal) era advogada. Ainda bem. Pois se ele soubesse que ela era “doutora” altamente qualificada, o poeta ficaria mais travado e mais sem jeito de se aproximar.
E a inércia do poeta permaneceu por um bom tempo no Bar. Ele não tomava iniciativa. E ela só tomava cerveja.
O garçom percebendo a admiração do poeta pela advogada sugeriu que o cara das palavras bonitas escrevesse para ela, e assim, lhe entregou uma caneta e alguns guardanapos.
A ideia surtiu efeito. O poeta agiu e o garçom passou a ser o pombo-correio:
– Olá moça que não sei quem é,
mas sinto que é
mais Poesia
que Mulher!
Quando a advogada leu essa frase ela nem perguntou ao garçom quem mandou, pois já tinha deduzido. Sinceramente, ela não estava nenhum pouco animada em respondê-lo. Estava com preguiça de entrar nesse jogo de recadinhos. Mas o senso crítico e contraditório da dama jurisdicional, de repente, a estimulou. Ela adorava réplicas e então não perdeu a oportunidade de contradizer os fatos, e escreveu assim:
– Olá moço, mas que poeta você é?
Você nem me conhece
E me compara ao que quiser?
Acho que quando o poeta leu esses versinhos contraditórios deve ter doído lá dentro dele. Afinal de contas, ele não esperava alguém que o retrucaria tão ferozmente. Ele nem imaginava que aquela “Poesia em forma de Mulher” sabia tudo de “ampla defesa”.
“A Advogada e o Poeta” é um conto em sequência. Leia também o anterior: http://www.megajuridico.com/2014/12/advogada-e-o-poeta-o-encontro.html
Escritor, poeta e advogado.