Coordenadora: Ana Claudia Martins Pantaleão
Você já ouviu falar do Janeiro Branco? Não é um movimento novo, mas tem se tornado cada vez mais conhecido, devido ao elevado número de casos.
Trata-se de um movimento voltado para a saúde mental criado em 2014. A campanha visa à cultura do cuidado para com as pessoas, na definição de Luciano Mello, presidente da Neuro Sucess, empresa de desenvolvimento de felicidade corporativa situada em São Paulo:
“Além de sermos o país mais ansioso do mundo, somos o quinto no ranking de depressão e estamos em segundo lugar na fila do burnout”.
Não por outra razão, o mês de janeiro é o escolhido para a realização do movimento, justamente por se tratar do primeiro mês do ano, trazendo aquela ideia de início de um novo ciclo, que proporciona abertura às possibilidades de mudança de hábitos e comportamentos.
Nesta época, as pessoas estão mais propensas a refletirem sobre as questões existenciais, relações sociais e suas emoções. O objetivo da campanha é chamar a atenção da humanidade para as necessidades relacionadas à saúde mental e emocional, mas também desmistificar os tabus que envolvem o tema e promover a criação de ações, principalmente por parte das empresas em atividades que proporcionem melhores condições aos seus colaboradores.
Nas organizações, brasileiras, o aumento de casos de burnout e a criação de novas leis para a proteção de trabalhadores faz com que essa discussão esteja cada vez mais em pauta.
Sendo o Burnout um desgaste que prejudica os aspectos físicos e emocionais do indivíduo e é um fenômeno reconhecido como uma síndrome ligada ao trabalho segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Afinal, quem nunca se deparou com algum tipo de desgaste emocional que tenha afetado a sua saúde mental, já pode ser considerado como sendo uma exceção, e, caso não tenha sofrido, possivelmente conheça alguém que passa e enfrenta essa questão.
O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo, estudos revelam que (9,3%) da população sofre de ansiedade, sendo o segundo maior da América em depressão (5,8), conforme levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS).
Os dados só reforçam a importância do Janeiro Branco, mês dedicado à conscientização aos cuidados da saúde.
E por que isso se torna também uma preocupação para a empresa?
Sob o relevo de que a principal influência está diretamente ligada ao aumento do afastamento laboral, não obstante ainda, a afetação ao desenvolvimento econômico. Ou seja, é um tema que deve e merece ser discutido também em âmbito profissional.
Um dos principais fatores está ligado ao estresse laboral com a consequente causa de problemas de saúde mental e que pode ser causado por uma variedade de fatores. A título de exemplo temos: sobrecarga de trabalho, pressão excessiva para atingir metas, assédio moral e sexual, falta de apoio da liderança e dos colegas, falta de oportunidades e até mesmo falta de recursos e ferramentas para realizar as atividades.
Considera-se ainda que, o estresse prolongado pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, podendo causar, ainda, problemas físicos, como dores de cabeça e problemas cardíacos, dentre outros tantos.
É possível detectar os problemas de saúde mental na Empresa?
Existem diversas formas de minimizar os problemas de saúde mental no trabalho, sendo algumas das principais:
Atuação direta, através de uma liderança efetiva e através dos colegas de trabalho, observando as mudanças no comportamento ou no desempenho dos funcionários, tais como: ausência frequente, diminuição na qualidade do trabalho ou alterações na personalidade, a fim de descobrir e trabalhar na causa do problema, demonstrando apoio e parceria.
Outra questão que muito se fala é sobre a ausência de Feedback. Os funcionários podem ser incentivados a compartilhar suas preocupações e dificuldades relacionadas à saúde mental, através de entrevistas individuais.
Uma avaliação por parte da empresa em monitorar dados, como absenteísmo, rotatividade e avaliações de desempenho para identificar tendências e padrões que possam indicar problemas de saúde mental também é um caminho a ser seguido.
É importante ainda estar atento a sinais de alerta como mudanças bruscas no comportamento ou desempenho, aumento do uso de álcool ou drogas, isolamento social, e fala de suicídio ou pensamentos suicidas.
Seria ainda possível a atuação ligada ao Compliance Trabalhista?
Uma das formas possíveis de combate seria a atuação das organizações, através do Compliance Trabalhista em implementar políticas e práticas que promovam a saúde mental dos funcionários, como programas de bem-estar, flexibilidade no horário de trabalho, e acesso a serviços de assistência emocional.
Além disso, as empresas podem promover o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, já que uma para com a outra está intrinsecamente relacionada.
Uma das maneiras de melhorar o clima organizacional e prevenir diversos problemas e ilegalidades que estão relacionados com a saúde mental, como o assédio, é adotar um canal de denúncias anônimas na empresa, desde que seja efetivo.
Ao detectar e lidar com problemas de saúde mental no trabalho, as empresas podem ajudar a melhorar o bem-estar dos funcionários, o que aumentará a produtividade e eficácia da equipe, evitando-se assim os altos índices de afastamentos, além da contribuição ao bem maior, chamado vida.
Advogada trabalhista, especialista em Direito e Processo do Trabalho, Direito Previdenciário, Compliance e LGPD, pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho, pós-graduada em Direitos Humanos, Constitucionalismo Global, ESG e Direito Previdenciário Internacional pela Universidade de Coimbra - Instituto Europeu IEPG, e pós-graduanda em Master em Compliance.