domingo, 26 março 2023

Você sabe o significado das expressões quiet quitting e quiet firing no mercado de trabalho?

Coordenação: Ana Claudia Martins Pantaleão

 

Vamos começar falando do quiet quitting, o termo viralizou nas redes sociais, através do movimento realizado em Nova York, pelo então engenheiro Zaid Khan,de 24 anos que explicou o que seria a proposta da demissão silenciosa: “Você não está desistindo do seu emprego, mas está abandonando a ideia de ir além no trabalho”.

O movimento faz parte da geração “Z”, que defende os limites de se trabalhar o mínimo necessário, empregando o termo quiet quitting , que em português significa “desistência silenciosa”. Contendo diversos sentidos, e entre eles, está de se fazer o mínimo no ambiente de trabalho, não ir muito além, empregando o mínimo esforço.

Por outra vertente, trata-se também de estabelecer limites ou não da cultura hands on (“mão na massa”). Há quem defenda a tese de se ter a retomada do controle de seu tempo, levantando ainda a bandeira da discussão: “a empresa quer que o empregado faça mais, sem pagar mais”.

Algo que antes já existia, porém, não nominado, há um novo olhar para com o mercado de trabalho, onde tem sido constado cada vez mais a distinção do trabalho e a correlação que cada indivíduo tem para si, visto que o trabalho não é igual para todos, as pessoas atribuem significados distintos, objetivos, percepções, planos, projetos e até mesmo carreira.

Por outro lado, a tendência comporta a discussão de que, se for aderida apenas por um modismo, sem objetivos, sem estarem claros a necessidade e o porquê são feitos, consequentemente os riscos frente à esta exposição sofrerão consequências.

É importante contextualizar que o mundo pós  pandemia se revelou como sendo outro, a linha que antes separava a vida pessoal e profissional diminuiu, esquemas de trabalho remoto, antes visto como impossível em muitas empresas e até mesmo em determinadas áreas, hoje foram flexibilizados, e então adotou-se uma nova pratica, uma nova forma de se trabalhar e, por que não, – uma nova forma ver o trabalho. Fortalecendo assim, o surgimento deste movimento.

De outra ponta, seja por parte das empresas ou empregados, o período da pandemia, sofreu consideráveis adaptações, e dentro deste contexto é que fatiou-se as habilidades para distinguir e constatar de que a vida é uma só, mas as tarefas do trabalho e de cunho pessoal se dividem em si.

O relevo do movimento traz à tona a reflexão de que a empresa tem que ir além da superficialidade, adotando mudança na estrutura, na organização do trabalho, reação contra controle, com organização estrutural, afastando o exaurimento, a fim de se ter preservada a saúde mental.

Há quem diga que o movimento veio para evitar o “burnout”, a exaustão, mas só tirar o pé do acelerador não é a solução.

O equilibro que o movimento pretende é a harmonia entre a vida pessoal e profissional.

Quiet Firing

Face ao movimento posto, em resposta as empresas passaram a adotar o quiet firing, traduzido: demissão silenciosa, – quando na verdade, muitos líderes já fazem essa pratica, e, por vezes, não sabem que o praticam. Especialmente na área da tecnologia. Inteligência artificial. Pressão cada vez maior, visto que neste campo que tem sido cada vez mais célere e competitivo.

A empresa quer demitir, mas não quer passar por esse conflito. A falta de empenho, de dedicação e os esforços limitados, tem feito as empresas através de seus gestores aderirem a conduta da ausência de feedbacks ou utilizá-los para propositalmente frustrar e inibir a confiança, criar metas irreais e demonstrar constante insatisfação, se empenham em construir ambientes de trabalho incômodos e situações na rotina que, pouco a pouco, aumentem no empregado o desejo de se desligar da organização, servindo como pano de fundo para desmotivar pessoas e que caracterizam o novo – ou não tão novo assim – fenômeno.

A função social do trabalho está para além das relações entre empregado e empregador, sendo, portanto, um dos deveres a pratica de inserção não somente a cultura adotada pela empresa, mas, sobretudo, aos resultados, ao reconhecimento do profissional, não apenas atrelado ao simples dever da política do engajamento de “vestir a camisa”, mas, de se estabelecer uma gestão coordenada de se ater não apenas no resultado final, mas sim o meio perseguido para se obter os resultados.

Em linhas gerais, o que se já fora observado pelos profissionais da área de RH, é que, por trás da demissão silenciosa há a pratica de ações que prezam pelo confronto direto, pela hostilidade ou por práticas que tornem insuportável do dia para a noite a presença do funcionário na organização, tornando-se inviável a manutenção desta relação, seja pelo viés da pratica do quiet quitting onde a empresa também não é obrigada a corroborar com a falta de empenho do profissional para além do mínimo necessário, tanto quanto na inserção aplicada ao quiet firing.

Contudo, importante mencionar que a pratica ao quiet firing corre contra fluxo à política de inserção de programas que visam a harmonia e a retenção de novos talentos, valorização do trabalho com o retorno em resultados e lucros, que possam ajudar na evolução dinâmica e organizacional da empresa, tendo como finalidade não somente o lucro, mas também de se prezar pela saúde física e mental do trabalhador, associada a uma conduta de cuidado e mudança a esse sensível cenário por parte da empresa.

Posto isso, a questão que plana são os limites destas ações, ensejando uma discussão entre a conduta praticada e a configuração de um assédio moral, o que já comportaria outra discussão, que tempo melhor dirá.

Especialista em Direito do Trabalho pela Puc – Cogeae – SP, Pós-Graduanda em Direito Previdenciário, pela Instituição de ensino Damásio de Jesus - unidade Liberdade - SP. Formada pela Universidade Cidade de São Paulo – Unicid. Conta com mais de 10 anos de atuação, possui, ainda, experiência na área de Direito Civil.

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