A esperança é uma das sensações sentimentais mais bonitas e atraentes que pode existir no ser humano. Como é lindo saber que a esperança é a ultima que morre. Isso anima e estimula o indivíduo. E naquela noite no Bar, o poeta se manteve esperançoso mesmo com o primeiro fora que a advogada lhe deu.
O poeta achou aquela mulher muito atrevida e ousada. E se apaixonou mais ainda por ela. Como de costume, poetas adoram mulheres fatais.
“Será que ela não gosta de poesia?” pensou ele escrevendo o próximo recado no guardanapo:
– Comparo você, moça, a uma Poesia bem rimada, bem metrificada, bem lapidada, assim como as Poesias de Bilac, Leminsk, Quintana, Neruda e Fernando Pessoa, aliás, falando nisso, como é linda a sua Pessoa…
A advogada também achou o poeta atrevido e ousado. Mas era um “atrevido e ousado” com classe. E sua resposta foi então na mesma sintonia, porém, sem deixar de ser feroz:
– Desculpe-me, moço, mas minha rima está bem mais acima. E meus poetas prediletos são outros: Weber, Bobbio, Descartes, Beccaria e Immanuel Kant, aliás, falando nisso, por favor, não me Kant.
Eita! Mais um corte. E que cortada! A advogada sabia se defender na mesma medida e na mesma criatividade com as palavras – ou até melhor que o poeta.
Calma aí doutora, assim o cara vai ficar gamado demais da conta e não vai ter dinheiro para pagar essa conta tão alta.
E era de se esperar. O poeta não conhecia nenhum daqueles nomes que a moça citou. Desse modo, ele não entendeu a ironia muito bem arquitetada por ela, mas o coração dele entendeu muito bem o corte.
O corte era no formato de um fora.
E o pior não é levar um fora. Ele já estava acostumado a levar foras. O pior é levar um fora criativo que bate de frente e te revida na mesma moeda. O pior é levar um fora de quem você já se declara apaixonado.
Dói.
Aquela situação de não saber o que fazer voltou. O poeta ficou paralisado olhando para o nada.
Parecia que nada mais ia acontecer, mas, sabe como é né, a esperança morre por último…