sexta-feira,29 março 2024
ColunaPapo JurídicoO problema do "Advogado Avatar"

O problema do “Advogado Avatar”

Durante todo o tempo da minha vida que dediquei e tenho dedicado ao direito, dentro de fóruns ou fora deles, o que mais tenho visto são os colegas “avatar”.

Não sei se alguém se lembra, ou se ao menos conhecem, do desenho animado Avatar, que conta a história de um garoto criado em um mosteiro e destinado a ser o Avatar, uma espécie de ser superior capaz de dominar os quatro elementos da Terra, enquanto os demais dominam bem apenas um.

Mas o que é “advogado avatar”?
Se ainda não compreenderam a analogia, refiro-me aqueles profissionais que atuam desde a área criminal até a trabalhista, sozinhos, diga-se de passagem, sem necessariamente ser especialista em nenhuma delas. Aquele que “domina” todos os elementos do direito.

advogado avatarHoje em dia, com o andar da carruagem, é mais do que sabido que não há possibilidade de se atuar em todas as diversas áreas do direito para ganhar mais dinheiro e ser especialista em alguma delas ao mesmo tempo. Vou além, é mais do que certo que não há sucesso (me refiro ao verdadeiro sucesso, não à sobrevivência na carreira) na advocacia sem especialização e dedicação exclusiva a determinado ramo, ou ramos, quando forem pares (direito civil e processo civil; direito penal, criminologia, medicina forense e processo penal; direito do trabalho, processo do trabalho e direito de seguridade social; etc).

A não ser que o bacharel queira seguir carreira pública, que demanda anos de estudo a fio para que se chegue a uma base concreta de conhecimento acerca de áreas distintas do direito, não é saudável para sua pretensa carreira, e muito menos para seus futuros clientes, que não se dedique a determinado ramo da ciência jurídica, estudando os demais como complemento, em busca do conhecimento sólido para sua atuação.

Repise-se que o advogado previsto no texto constitucional e no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil é raro. Aquele profissional é capacitado intelectualmente para debater de forma isonômica com um membro da advocacia pública, do Ministério Público ou da magistratura, tanto o é que a lei os coloca no mesmo patamar.

Daí a importância de se manter atualizado em relação à determinado ramo, mesmo após concluir uma especialização com grau de doutorado em determinada área. O direito não é estático, ele se movimenta, e acaba fadado à utopia o pensamento do profissional que se convence de que será capaz de acompanhar as mudanças em todas as áreas com a mesma frequência. Hora ou outra acabará se perdendo e deixando escapar alguma súmula nova ou jurisprudência recente que lhe seriam de extrema valia.

Hoje, sair da faculdade em busca de uma especialização em determinado ramo deve ser a regra. Não haverá compatibilidade de intenções entre um profissional recém formado que não quer se especializar em nada e um grande escritório que possui dezenas de candidatos a determinada vaga de advogado em determinada área de atuação. Claramente, este profissional será deixado de lado.

Mais relevante que garantir uma colocação confortável no mercado de trabalho é garantir a defesa dos direitos de determinado cidadão que vai ao escritório em que este profissional trabalha em busca de assessoria e representação jurídicas. Ora, se o advogado não possuir plena segurança dos passos que dá, estará colocando em risco a pretensão daquela pessoa, o que destoa totalmente da missão do advogado.

É, aliás, característico do modelo de sociedade em que vivemos a busca pelo aperfeiçoamento dos serviços prestados através da especialização em determinada área. Mais válido que saber um pouco de tudo é saber muitíssimo bem determinada área, deixando para o outro a função de conhecer profundamente a outra, formando uma engrenagem de conhecimentos notáveis em todas as áreas de atuação.

Ao que parece, não sei se por sobrevivência na carreira ou se por opção, há um número ainda relevante de advogados, tanto jovens, quanto mais velhos, que teimam em advogar em todas as áreas possíveis para atrair um número maior de clientes, mas a qualidade do trabalho exercido não é tão boa quanto deveria. O conforto esta no fato de haver um número crescente de jovens advogados preocupados com a continuidade de sua formação, em busca de profundidade de conhecimento em áreas específicas do direito, o que melhora o debate jurídico e, consequentemente, aprimora a prestação jurisdicional.

 

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