quarta-feira,24 abril 2024
ColunaTrabalhista in focoO idoso e o mercado de trabalho

O idoso e o mercado de trabalho

Coordenação: Ana Claudia Martins Pantaleão

1. Introdução

Não nos parece que os desafios dos idosos no mercado de trabalho sejam diferentes de outros desafios inerentes ao envelhecimento, tais como a sexualidade, família e a saúde, etc… A cada um de nós cabe fazer nossa parte a fim de modificar esta árdua realidade, lembrando que, se não morrermos antes, em algum tempo mais, seremos velhos também.

O envelhecimento populacional traz como uma das principais consequências econômicas, mudanças no mercado de trabalho, bem como o impacto no sistema previdenciário.

Avaliando o comportamento da população brasileira, nota-se um processo de envelhecimento de nossa gente, pois, os avanços da medicina e o surgimento de tecnologias capazes de propiciar melhorias na qualidade de vida dos idosos foram responsáveis pelo aumento da expectativa de vida do brasileiro.

Vale lembrar que, além de viverem mais, os brasileiros têm tido menos filhos. O acesso às medidas anticoncepcionais e à informação tem levado os casais a adotarem o planejamento familiar.

Assim, segundo dados do IBGE (IBGE 2008), a taxa de fecundidade vem diminuindo, passou de mais de 6 filhos por mulher, até a década de 1960, para 5,30 na de 1970, 4,06 na de 1980, 2,79 na de 1990, 2,39 na de 2000 e 1,76 em 2010. Enfatizando que este é um processo que deve se acentuar nas próximas décadas, visto que, além da possível continuação da redução da taxa de fecundidade até o ano de 2013, também há a questão da queda da mortalidade entre as pessoas idosas; porém, sobretudo como consequência da queda de fecundidade em décadas anteriores.

2. A expectativa de vida em nosso país

O significado do que vem a ser um idoso depende de diversos enfoques, que perpassam os culturais e vão até os biológicos, sendo complexa sua delimitação precisa. Entretanto, no Brasil, por questões práticas, adotou-se o limite etário, sendo que a Organização Mundial da Saúde – OMS, divide os idosos em 3 (três) categorias:

– os pré-idosos (entre 55 e 64 anos);

-os idosos jovens (entre 65 e 79 anos);

-os idosos em idade avançada (com 80 anos ou mais).

O envelhecimento da população brasileira trouxe alterações na disposição etária do país, de modo que a participação desse grupo no número total da população cresce de maneira constante. Segundo Moreira (2001, p. 27) “por envelhecimento populacional entende-se o crescimento da população considerada idosa em uma dimensão tal que, de forma sustentada, amplia a sua participação relativa no total da população”.

De acordo com o Censo Demográfico (IBGE, 2011) a população brasileira era de 190,8 milhões de pessoas em 2010, dos quais, 42,3% tinham entre 0 e 24 anos de idade, 47,18% tinham entre 25 e 59 anos e 10,79% 60 anos ou mais. Levando-se em conta que no ano de 2000 estes mesmo grupos correspondiam a 49,6%, 41,76% e 8,56%, nessa ordem, nota-se uma mudança gradativa na composição destes entre os anos de 2000 e 2010, com a diminuição da parcela de jovens e o aumento dos grupos de adultos e idosos.

Conforme o mesmo instituto, a expectativa de vida ao nascer no ano de 1940 era de 45,5 anos, em 1980 era de 62,5 e em 2020 chegou a 76,6 anos. E, estima-se que em 2050 um terço da população brasileira terá 60 anos ou mais e que em 2060 o país terá mais pessoas idosas do que jovens.

Assim como, no Brasil, existem quase 33 milhões de idosos e em mais de 17 milhões de famílias, o principal provedor tem mais de 60 anos. Logo, 24,89% das famílias, ou quase um quarto do total, têm como responsável financeiro um idoso.

Contudo, como está o mercado de trabalho para este grupo etário? O que as pesquisas revelam sobre os profissionais idosos que buscam novas oportunidades no mercado de trabalho?

3. Os idosos no mercado de trabalho

Não obstante todo o exposto, as estatísticas mostram que, desde a década de 1990, a despeito do célere ritmo de envelhecimento populacional, tem-se constatado uma diminuição na participação proporcional dos idosos no mercado de trabalho, apesar de o crescimento da população idosa economicamente ativa estar num ritmo acima do da população economicamente ativa (PEA) como um todo.

Legitimar o envelhecimento como uma conquista significa criar meios que alarguem a capacidade da pessoa idosa de contribuir com a sociedade e garantir o acesso ao mercado de trabalho ao idoso, em condições de igualdade de oportunidades e de recursos.

O IBGE, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), mostra que os idosos são o grupo etário com menor participação no mercado de trabalho. No entanto, esse percentual está aumentando.

No ano de 2012, a porcentagem de idosos ativos era de 5,9%. Já no ano de 2018, o índice aumentou para 7,2%, também conforme o IBGE, o que representa 7,5 milhões de idosos contribuindo com a força de trabalho.

Em contrapartida, a mesma pesquisa mostra que o desemprego entre o grupo de idosos aumentou consideravelmente, passando de 40,3% em 2018, contra 18,5% registrados em 2013. Amiúde, esses números traduzem o preconceito contra esse grupo etário, como veremos a seguir.

Além do mais, 27% trabalhavam no mercado formal e 45% trabalhavam como empreendedores, ou seja, por conta própria. Entre os quais, 17% desses trabalhadores atuavam no comércio, 15% na agricultura e 10% no setor de serviços, especialmente nos segmentos da saúde e educação.

O grupo etário acima dos 60 anos está apto a desempenhar suas funções com responsabilidade e qualidade, o que comprovam os dados do IBGE. Ótima notícia para um público que deverá refletir 25,5% da população brasileira até 2060.

4. A empregabilidade na terceira idade

As empresas no Brasil, na prática, não têm política de recursos humanos (RH) para reter ou qualificar os trabalhadores idosos. Um número reduzido de empresas que criam metas nesse sentido se limitam a processos seletivos a fim de contratar pessoas da terceira idade somente para funções de relacionamento com o público, como vendas ou atendimento ao cliente.

Segundo o estudo Envelhecimento da Força de Trabalho no Brasil, realizado pela consultoria PWC e a Fundação Getúlio Vargas, somente 1% dos cargos em mais de uma centena de empresas em nosso país são ocupados por trabalhadores com mais de 65 anos.

Para agravar esse cenário, 70% das empresas que responderam às pesquisas creem que funcionários da terceira idade são mais caros, 69% responderam que eles não se adaptam bem às mudanças e 63% os têm como acomodados com a aproximação da aposentadoria.

Uma das responsáveis pela pesquisa, a professora Maria José Tonelli, relata que mesmo depois de quatro anos da coleta de dados, a realidade do mercado é a mesma. “A resposta foi que supostamente, não existe um preconceito declarado, mas, ao mesmo tempo, não há prática de seleção ou cultura organizacional que faça o engajamento de profissionais mais velhos. Isso não mudou.”

De acordo com pesquisa recente realizada pela InfoJobs, 70,4% dos profissionais com mais de 40 anos referem ter sofrido preconceito no mercado de trabalho.

Contudo, o trabalho e a empregabilidade desse grupo etário está em discussão, pois os números corroboram a participação e a vontade dos idosos em seguir no mercado de trabalho. Este é um caminho sem volta.

Muito distante da conjuntura ideal, algumas concepções ou noções não estão se confirmando e há uma compreensível sinalização de que os desafios de se conseguir trabalho ou seguir trabalhando na terceira idade está se tornando mais viável.

A fim de que os trabalhadores mais velhos sejam valorizados no mercado de trabalho, é fundamental entender que cada grupo etário tem seus talentos e méritos.

Assim, propõe-se que líderes e empregadores exerçam o controle de possíveis conflitos, analisem o grupo de trabalho e cuidem das políticas e educação dos profissionais sob sua responsabilidade.

É salutar a troca de conhecimento entre gerações de profissionais, sendo uma grande vantagem a diferença etária entre os trabalhadores no âmbito corporativo.

5. Os mitos e o preconceito contra os trabalhadores da terceira idade

Pesquisa realizada pela InfoJobs com mais de 4588 trabalhadores identificou as dificuldades para as pessoas mais velhas no mercado de trabalho. Para 61% dos entrevistados com mais de 40 anos, encontrar organizações que admitem idosos é o maior obstáculo. Para outros 78%, o mercado de trabalho é desigual e não oferece as mesmas oportunidades para o idoso. O preconceito etário nos processos seletivos foi citado por 70,4% dos participantes da pesquisa.

Via de regra, a desinformação é uma das razões do preconceito. Embora a condição etária esteja atrelada a maior experiência e sabedoria, a representação social de “pessoa velha” é sinônimo de alguém vulnerável e sem capacidade de ser auto suficiente.

Por outro lado, um dos primeiros mitos a serem combatidos é de que o idoso não tem vigor físico necessário para o trabalho e que o profissional mais jovem pode ser mais econômico ou ter mais energia para o exercício de suas funções. Porém, nem sempre isso corresponde à realidade dos fatos.

Outro mito bastante comum é de que os idosos não se adaptam às mudanças. Contudo, na realidade, as mudanças podem ser difíceis para todos os profissionais da empresa, não só para os idosos.

Para a psicóloga Aparecida Azevedo, devemos ver a terceira idade como uma etapa de desenvolvimento e não como uma última etapa da vida. “É necessário que possamos desconstruir o estigma de marginalização da população idosa e mostrar que, “ir para os aposentos” como a aposentadoria sugere, pode não ser a opção mais viável para muitos e que oportunidades de emprego nesta fase pode ser uma conquista social e não uma ameaça às futuras gerações.”

Para resumir, há também o mito de que os idosos não são hábeis com a tecnologia ou de que pessoas mais velhas não têm a mesma criatividade que os jovens para a solução de problemas. Outra vez, frisamos que essa é uma peculiaridade que independe da idade do profissional.

Em compensação, o trabalhador da terceira idade tem muita experiência e engajamento, além de mostrar vigor e alegria se incentivado e estimulado da maneira adequada.

6. As vantagens da empregabilidade na terceira idade

Investir na diversidade, inclusive etária, é uma missão que as organizações devem concretizar.

Organizações envolvidas com o meio social são bem vistas. A responsabilidade social verdadeira é valorizada, sobretudo quando não tem a intenção somente de cumprir com a lei ou políticas de cotas.

As empresas que admitem profissionais mais velhos se beneficiam de diferentes formas: constância e sensatez do trabalhador; compartilhamento de conhecimento prático adquirido ao longo da vida; mais paciência para passar por etapas da carreira profissional; e, maturidade na interpretação dos acontecimentos e ao lidar com imprevistos e situações excepcionais.

Responsabilização e disponibilidade: geralmente, profissionais com mais de 50 anos têm maior disponibilidade de tempo e horário. Tendo em vista que grande parte já criou os filhos e não têm outros compromissos como reuniões escolares e consultas médicas; assim como não precisam de licença maternidade ou casamento, pois todos já passaram dessa etapa da vida.

7. O retorno ao mercado de trabalho na maturidade

O profissional idoso que tem o intuito de voltar ao mercado de trabalho deve estar atento às suas habilidades e experiências adquiridas ao longo dos anos.

Razão pela qual, é significativo compreender quais suas competências atuais somam valor a uma organização e quais suas carências de conhecimento, reciclagem ou desenvolvimento para seguirem sendo buscados pelas empresas.

Ter sempre uma postura assertiva, boa vontade em se adequar às mudanças e aptidão são importantes nas entrevistas de trabalho.

Ainda, cuidar da saúde e investir em suas qualidades. Esquematizar oportunidades, buscando por vagas não somente através dos meios tradicionais, mas também procurando possibilidades de trabalho específicas para idosos.

Além disso, manter-se aberto às novas tecnologias, compreendendo que a tecnologia é uma grande aliada das empresas e praticamente todos os setores da economia. Portanto, é importante investir em um curso de informática voltado para a terceira idade.

Lembrando que não será somente pela sua capacidade técnica que o idoso será contratado, mas por um complexo de razões que mostram que o profissional está qualificado para um determinado cargo e pode ser parte importante na equipe de funcionários da empresa.

Por fim, há uma tendência favorável de mais organizações darem oportunidade de trabalho e empregabilidade aos idosos. Há uma sequência de desafios, mas o contexto se torna cada vez mais promissor nessa questão.


8. Referências bibliográficas

ALMEIDA, A. N. Determinantes do consumo de famílias com idosos e sem idosos com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares 1995/96 Piracicaba, 2002. 94p. Dissertação (Mestrado). Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002.

BANCO MUNDIAL. Envelhecendo em um Brasil mais velho Banco Mundial/LAC, Brasil, 2011.

CAMARANO, A. A.; PASINATO, M. T. Introdução. In: CAMARANO, A. A. (Org.). Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: Ipea, 2004.

GUILHOTO, J. J. M. Análise insumo-produto: teoria e fundamentos. São Paulo: USP, FEA, Departamento de Economia, 2006.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008 Rio de Janeiro, 2005. CD-ROM.

MOREIRA, M. M. Envelhecimento da população brasileira: aspectos gerais. In: WONG, L. R. (Org.). O envelhecimento da população brasileira e o aumento da longevidade: subsídios para políticas orientadas ao bem-estar do idoso. Belo Horizonte: Cedeplar/UFMG, Abep, 2001, p. 25-56. Disponível em: http://www.abe<p.nepo.unicamp.br/docs/outraspub/envelhecimento/Env_p25a56.pdf>. Acesso em: 07/06/2023.

NERI, M. et al. Inflação e os idosos brasileiros. In: CAMARANO, A. A. (Org.). Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: Ipea, 2004.

ZANON, R. R. Envelhecimento populacional e mudanças no padrão de consumo: impactos na estrutura produtiva do Brasil. 2012. 77 f. Dissertação (Mestrado em Economia Regional) Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, 2012.

Advogada, Pós Graduada em Direito Imobiliário pela Faculdade Legale, Conciliadora/Mediadora com formação pela ESA/OAB.

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