sexta-feira,29 março 2024
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Diário de uma recém-formada mamãe-advogada

A maternidade é um presente e a formação jurídica uma conquista. Sabemos que ambos possuem percalços e exigem dedicação, mas para aquelas mamães advogadas que ainda não possuem condições de sair do mercado de trabalho, seja temporariamente ou permanentemente, por necessidade ou por opção, para essas eu dedico esse artigo.

Gostaria de escrever um artigo diferente daqueles artigos técnicos que sempre vemos, principalmente em comemoração ao mês da amamentação e da gestante (agosto). Mas antes gostaria de dizer que não tenho muita experiência. É melhor esclarecer antes para que não pensem que sou uma mãe de cinco crianças e com um escritório cheio de demanda judicial para patrocinar. Na realidade tenho um bebê de três meses e meio, estou dando os primeiros passos para o início de uma carreira jurídica solo e trabalho há 8 anos na mesma empresa, uma multinacional, no departamento jurídico.

No meu período de gestação a minha advogada chefe disse que eu ficaria de “saco” cheio no meu período de licença maternidade, não por falta de amor ao baby mas sim pela rotina maçante, e aqui estou eu, me perguntando se falta muito para o meu “saco” ficar cheio, porque estou amando tudo isso, tudo é aprendizado e superação e é nesse momento que você descobre que ainda não sabia nada da vida e que pode se superar sempre.

Embora, verdade seja dita, sou mãe mas não deixei de ser advogada, logo continuo ligada ao mundo jurídico – principalmente por conta da recém aprovada reforma trabalhista – o que faz com que eu não tenha uma rotina, por excelência, ou seja, repetitiva. Portanto, cursos, contatos profissionais e palestras continuam fazendo parte desses seis meses de licença (sim, 180 dias visto que a empresa que atuo aderiu ao Programa Empresa Cidadã, mas podemos abordar esse tema e seus benefícios em um próximo artigo).

Importante salientar as alterações no Estatuto da Advocacia e da OAB que trouxeram uma vitória à mulher advogada, mas ainda há muito a conquistar (outro tema importante para abordarmos). No momento, vou citar algumas das nossas conquistas que estão elencadas no artigo 7º.

Art. 7º-A. São direitos da advogada: (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
I – gestante: (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
a) entrada em tribunais sem ser submetida a detectores de metais e aparelhos de raios X; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
b) reserva de vaga em garagens dos fóruns dos tribunais; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
II – lactante, adotante ou que der à luz, acesso a creche, onde houver, ou a local adequado ao atendimento das necessidades do bebê; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
III – gestante, lactante, adotante ou que der à luz, preferência na ordem das sustentações orais e das audiências a serem realizadas a cada dia, mediante comprovação de sua condição; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
IV – adotante ou que der à luz, suspensão de prazos processuais quando for a única patrona da causa, desde que haja notificação por escrito ao cliente. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
§ 1o Os direitos previstos à advogada gestante ou lactante aplicam-se enquanto perdurar, respectivamente, o estado gravídico ou o período de amamentação. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
§ 2o Os direitos assegurados nos incisos II e III deste artigo à advogada adotante ou que der à luz serão concedidos pelo prazo previsto no art. 392 do Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho). (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
§ 3o O direito assegurado no inciso IV deste artigo à advogada adotante ou que der à luz será concedido pelo prazo previsto no § 6o do art. 313 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)

Mesmo com tantos direitos garantidos, ainda é difícil e quase impossível, pelo menos nos primeiros meses conciliar o trabalho, a vida acadêmica e a maternidade. Semana passada fui para a aula de prática jurídica trabalhista na OAB da minha cidade e deixei o meu bebê com o meu esposo. Geralmente eu consigo deixar o leite também porque eu alimento ele somente com leite materno, mas justo nesse dia não tinha leite suficiente para tirar com a bombinha e mesmo ele bem alimentado fiquei com a cabeça em casa. Será que vai ter fome? Será que vai sentir medo, ou ansiedade (para quem não sabe bebês também mamam por pura ansiedade ou nervoso, ou medo)?. Mas quando cheguei em casa ele continuava dormindo como um anjo. Já na semana anterior mesmo amamentando no intervalo do curso ele deixou o meu esposo louco com um choro agudo e desesperador de quem não mamava desde que nasceu. Nesse caso o meu marido teve que me buscar no curso porque já não sabia mais o que fazer.

Recentemente recebi a ligação de um cliente e logo que atendi coloquei no viva-voz como de praxe (voz ativa ou auto – falante para alguns), mas uma voz no meu interior me disse: “Não, não faça isso!”. Claro, que ouvi aquela voz sábia e desisti, porém, em seguida ouvi um som nada agudo e semelhante à uma metralhadora (risos ao escrever esse artigo e lágrimas no momento do acontecido). Alguém sabe que som era aquele? Acertou quem chutou que era o som dos gases nada infantis soados pelo intestino do meu filho. Meus caros, nesse momento, dei graças à Deus por ter escutado a voz da sabedoria. Entretanto, se o cliente ouviu alguma coisa, ele fingiu que não (nós fingimos que não).

Falar com clientes? Isso eu deixo para a madrugada por mensagens ou em horários agendados para atender pessoalmente, e evito o telefone, considerando que a última vez que atendi via telefone, o meu bebê, que deve ter um sensor com certeza, conseguiu transformar a conversa em um monólogo que só ele atuava. Eram tantos “angus e angus” que perdi totalmente a noção da conversa e marquei pessoalmente com o cliente.

Em falar em sensor, gostaria de saber como ele descobre os horários que preciso trabalhar em uma peça ou cumprir um prazo, deve ter um “radarzinho” escondido no meio de tanta gostosura. Recentemente fui acompanhar o cumprimento de um mandado com o oficial de justiça próximo da minha casa. Felizmente o meu esposo estava em casa nesse dia e não precisei deixar com a babá, mas mesmo assim o radar estava carregado nesse dia e ele decidiu ficar muito carente (pasmem, com dois meses de vida) e gritou da forma mais aguda possível, porque me recuso a dizer que era um choro, eram “berros”. Na rua de casa dava para ouvir os gritos e pedi licença ao oficial para atender ao meu cliente principal: meu filho. Claro que após o episódio rimos muito, mas no ato eu chorei de desespero.

Muitos episódios estão por vir e espero voltar aqui para poder relatar todos. Enquanto isso afirmo – assim como no começo – que ser mulher é uma dádiva; ser advogada uma conquista; ser mãe é um presente; mas, ser mulher, advogada e mãe, isso, isso sim é ser poderosa.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns, impossível deixar de presenciar uma história fofíssima, diga-se de passagem, felicidades para toda família.

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