quinta-feira,18 abril 2024
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De março de 2020 a março de 2021: alguma coisa mudou?

No início de março do ano de 2020 o Ministério da Saúde havia confirmado apenas dois casos de infectados pelo Covid-19. Na primeira semana de março de 2021 já chegamos a mais de 265 mil mortes, segundo dados do Governo Federal [1].

E o que mudou em um ano?

No dia 26 de fevereiro de 2020 foi confirmado o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, na cidade de São Paulo um homem de 61 anos que havia voltado recentemente da Itália recebeu diagnóstico positivo para o Sars-CoV-2. E depois dele vieram outros e outros caso até que, pouco mais de um ano da primeira confirmação brasileira, o país atinge status de novo epicentro da pandemia [2].

Diante da pandemia e em virtude da necessidade de garantir e preservar a saúde da população as diretrizes e medidas de proteção a que todos se submeteram, a exemplo das restrições de circulação, quarentena e isolamento social, interromperam significativamente as atividades econômicas e sociais.

Cenário que se apresentou até o 2º semestre de 2020 quando as autoridades, na tentativa de voltar à normalidade, dentro do que se entende como normal em um cenário pandêmico, permitiram que as normas de proteção, antes mais severas, fossem pouco a pouco regredindo, a fim de que o funcionamento da sociedade voltasse ao estado anterior. E, dentro dessa maleabilidade, foi permitido o retorno gradual das atividades de inúmeros profissionais.

O resultado, um ano depois, é desesperador. Os especialistas já nos alertavam para uma segunda onda de contaminação, fato que se concretizou e desencadeou o aumento significativo de casos confirmados da doença, recorde no número de mortes diárias e a descoberta de variantes mais agressivas da Covid-19.

Segundo Márcio S. Bittencourt, médico cardiologista e pesquisador da Clínica Epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, as segundas ondas são caracterizadas pelo aumento do número de casos, internações ou óbitos por uma determinada doença após constatada queda vertiginosa, além de controle por um período em região geográfica delimitada [3].

Muito se falou acerca de a própria convivência em sociedade ser a “cura”. Isso porque, segundo uma corrente de pensamento, a população criaria anticorpos ao coronavírus naturalmente, ou seja, o convívio social da forma conhecida e praticada até então seria capaz de produzir nas pessoas uma capa protetiva que extirparia, cedo ou tarde, as infecções e, por óbvio, diminuiria o contágio e as mortes pela doença.

Contudo, não foi o que se viu. A descoberta de variantes da Covid-19, chamadas cepas, em várias partes do mundo demonstrou que, em verdade, o vírus é que está se adaptando aos seres humanos, se tornando potencialmente mais agressivo e com maior poder de transmissibilidade e mortalidade.

Estudos preliminares confirmam que o Brasil detectou duas variantes, P1 e P2, cuja carga viral pode ser até dez vezes maior em  um indivíduo contaminado, sendo mais transmissível, com maior poder de invasão do sistema imunológico e, provavelmente, deve ser mais patogênica, segundo Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do grupo da USP que participou da investigação realizada pelo Centro Brasil-Reino Unido para a Descoberta e Diagnóstico de Abrovírus, em entrevista publicada no El Comércio, da Espanha [4].

Enquanto novas cepas eram descobertas, grandes indústrias farmacêuticas iniciaram uma corrida para produzir um medicamento eficaz contra o vírus. As gigantes Pfizer, Johnson & Johnson, AstraZeneca, Bayer, Merck, Moderna, Sinovac, dentre outras, iniciaram projetos de pesquisa para criar e produzir uma vacina em um curto espaço de tempo e, sobretudo, capaz de anular o Sars-CoV-2.

O mundo está se vacinando, porém a velocidade com que o Covid-19 se espalha é infinitamente maior do que a capacidade de os países vacinarem quantidade suficiente de pessoas, e consequentemente produzir imunidade em massa capaz de vencer o vírus. E, infelizmente, o Brasil está iniciando a vacinação um pouco mais rápido que uma tartaruga, animal conhecido por sua lentidão, o que piora ainda mais um cenário que já é caótico e desesperador.

Mesmo após iniciada a vacinação, em pouco mais de 365 dias do primeiro caso de Covid-19 confirmado no Brasil, estamos enfrentando a segunda onda da pandemia, agora com a presença de novas cepas do vírus, atingindo, talvez, o pior e mais trágico momento da crise sanitária. Hoje, o Brasil ocupa o triste e lamentável terceiro lugar em número de casos de infecções em todo o mundo, segundo dados da OMS – Organização Mundial de Saúde [5].

E, ao que parece, não há uma luz no fim do túnel para esse pesadelo que estamos vivendo em todo o mundo e, principalmente, no Brasil. Mike Ryan, diretor executivo da OMS, tem demonstrado especial preocupação com o que se desenha para o país, cujo presidente desdenha da doença e sugere que combater o coronavírus não é a sua prioridade.

Em entrevista coletiva, Ryan chamou atenção para a necessidade de se manter vigilante às normas de proteção e lembrou que o futuro pode ser trágico se medidas severas não forem tomadas. Segundo ele,

“A situação do Brasil mostra que isso não acabou para ninguém, pois qualquer relaxamento é perigoso, diante de um vírus que ainda tem muita energia.

(..)

Se as medidas sanitárias de controle não foram mantidas durante a introdução das vacinas, pagaremos um preço alto.”[6]

A rapidez da propagação do coronavírus acendeu a necessidade de uma adaptação rápida por parte de todo o mundo e qualquer processo de mudança exige um tempo para adaptação, sobretudo no cenário atual, onde as preocupações com a saúde da população e a incerteza em que respira o mundo prejudicam a todos.

Ainda é cedo para avaliar as consequências que a pandemia da Covid-19 trará para todo o mundo. Alguns estudiosos acreditam que ainda levaremos anos para voltar ao status quo ante, outros advertem que ainda esse ano voltaremos ao mundo pré-coronavírus e aqueles mais pessimistas informam que a sociedade jamais voltará a ser como um dia já foi.

Um ano depois ainda existem dois mundos. Um que se aglomera em festas clandestinas, desrespeita as normas de proteção, e segue com visão negacionista a respeito do vírus. E há o outro mundo, aquele que clama desesperado por socorro. Diante de inúmeros aprendizados que tiramos do último ano, a habilidade do ser humano para enfrentar crises e mudanças drásticas é, talvez, o maior deles.

Novos hábitos e nova rotina para todos os que pertencem e convivem em sociedade: um ano atrás estávamos – e agora ainda estamos – diante de um novo modus operandi, onde rapidamente tivemos que nos habituar a uma mudança brusca de costumes, adotando medidas de segurança, novos métodos de trabalho e de convivência social e, de um março a outro, pouco mudou.

A sociedade nunca foi tão testada e levada ao extremo como neste último ano e o grande desafio ainda estar por vir: mesmo após 365 dias difíceis, continuarmos nos mantendo resilientes por mais um longo período nesse “novo normal”.

 


Foto: Getty Imagens

REFERÊNCIAS:

[1] Disponível em: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 07/03/2021.

[2] Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/03/05/novo-epicentro-brasil-tem-30-das-novas-infeccoes-no-mundo-em-24-horas.htm. Acesso em: 07/03/2021.

[3] Disponível em: https://canaltech.com.br/saude/brasil-ja-enfrenta-segunda-onda-da-covid-19-alerta-pesquisador-da-usp-174857/. Acesso em 14/12/2020.

[4] Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/covid-19-cepa-brasileira-e-mais-transmissivel-e-invade-mais-o-sistema-imunologico/. Acesso em: 07/03/2021.

[5] Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2021/02/26/diretor-da-oms-admite-preocupacao-com-situacao-do-brasil-na-pandemia.htm. Acesso em: 07/03/2021.

[6] Disponível em: Se as medidas sanitárias de controle não foram mantidas durante a introdução das vacinas, pagaremos um preço alto… – Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2021/02/26/diretor-da-oms-admite-preocupacao-com-situacao-do-brasil-na-pandemia.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 07/03/2021.

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